De repente, isolada no campo, me encontrei sem material, sem oficina e sem  ferramentas. Foi um momento de introspecção, meditação e sintonia com a natureza, que fez com que eu olhasse à minha volta. À maneira Zen comecei a observar as  pedras que estavam em meu jardim, e, imediatamente, me lembrei do poema de  Drummond – que se tornou um mantra nesse período.  

Saindo da zona de conforto de um material conhecido como o mármore, me vi frente a  pedras comuns, sujas de terra, algumas duras e resistentes, outras frágeis e  quebradiças. Resolvi interferir nelas usando metal, mas tendo como meta manter  intacta a essência de cada uma. O contato foi revelando que nem tudo podia ser feito.  Algumas pedras aceitavam determinadas intervenções e outras não. Comecei então uma jornada, um processo de descoberta das características das diferentes rochas,  que me levou às origens de nosso planeta, à consciência da perenidade agregada a  cada rocha, um percurso que se tornou, literalmente, o caminho das pedras. 

A princípio usei flexíveis fitas metálicas para envolver as pedras, depois resolvi  incrustar o metal nelas. Algumas recusaram essa abordagem partindo-se à penetração.  Arrisquei então outra forma de abraçar as pedras, derramando sobre elas o metal em  fusão. Colhi alguns belos resultados, mas vi rochas se espatifarem ao contato ardente,  ou mudarem inteiramente de cor! Houve ainda outras surpresas. Ao levar uma pedra  para ser lavada acolhi a sugestão de polir a grossa casca, procedimento que revelou  um interior negro, denso e belo. Era uma nova frente de pesquisa com cores e  texturas. Instigada por todas essas possibilidades, continuei a experimentar: banhei a  pedra porosa com prata e com cobre, fazendo brilhar detalhes já presentes, juntei  pedras com pedras, em quase insustentável equilíbrio e em outras não fiz nada,  apenas as apresento em outro contexto.

E aqui está o resultado desse trabalho, que se revelou bastante árduo, e que me deu  alegrias e decepções. Uma relação arrebatadora – na qual quem indicou o caminho  foram as pedras.